Dallagnol diz que esquema de corrupção tem impacto nas eleições


O jornalista Ricardo Brandt do blog de Fausto Macedo do Estadão entrevistou Deltan Dallagnol. Faltaram duas perguntas. Uma sobre o auxílio-moradia e outra, sobre o reajuste nos salários no Judiciário, que devem servir de base para reajustar também os vencimentos dos promotores e procuradores.

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O senhor tem defendido em palestras e manifestações pessoais a necessidade de o eleitor votar em candidato com ficha limpa, defensor da democracia e comprometido com propostas anticorrupção ? Por que decidiu fazer isso?

Para a corrupção diminuir e proteger a Lava Jato. A responsabilização dos poderosos na Lava Jato e em outras operações é necessária para controlar a grande corrupção, mas não é suficiente. Enquanto houver grandes incentivos para a prática da corrupção nos ambientes político e empresarial, continuaremos perdendo. Se queremos virar esse jogo, é crucial que coloquemos no Congresso Nacional políticos comprometidos com a aprovação de leis que fechem as brechas por onde o dinheiro público escapa. Além disso, se colocarmos no Congresso pessoas que são investigadas, é natural que trabalhem contra as investigações e processos. É o que aconteceu na Itália e que leis foram aprovadas para garantir a impunidade dos poderosos. Por isso é essencial colocar no Congresso políticos com passado limpo. Sei que essa não é a única pauta da sociedade, mas é uma agenda importantíssima.

A Lava Jato e outras investigações como ela correm risco?

A Lava Jato corre grande risco depois das eleições. Enquanto o Congresso Nacional estiver cheio de investigados, a tendência é que ataquem as investigações aprovando leis contra elas. É o que aconteceu na Itália e é o que já tentaram fazer por aqui algumas vezes quando tentaram passar a anistia de caixa 2, uma lei de abuso de autoridade que amarrava investigações e projetos que impediriam delações. Neste fim de ano, quem perder o foro privilegiado pode entrar em desespero e os demais podem se sentir confortáveis para aprovar leis impopulares porque só haverá novas eleições depois de quatro anos.

Quantos políticos a Lava Jato revelou ligados a irregularidades?

Apenas a colaboração da Odebrecht mencionou 415 políticos de 26 partidos. Nas contas da imprensa, quase um terço dos senadores e ministros e quase metade dos governadores. Um político que decidiu colaborar afirmou que o esquema de nomeações políticas para arrecadação de propinas, que são usadas para enriquecimento dos envolvidos e financiamento de campanhas, existe há várias décadas. O que a Lava Jato revelou é um esquema político-partidário bastante espalhado que vai muito além da Petrobrás e que tem grande impacto nas eleições.

Como a corrupção impacta nas eleições?

A Lava Jato revelou que as propinas não só enriqueceram os envolvidos, mas também financiaram caras campanhas eleitorais. Estudos mostram uma correlação entre o dinheiro investido na campanha e o número de votos. Isso significa que a corrupção desequilibra as disputas eleitorais em favor dos corruptos. Uma vez reeleitos, mantêm ou aumentam seus esquemas, gerando mais propinas, o que nos coloca num círculo vicioso.

Veja-se que o ex-governador do Rio Sergio Cabral foi acusado de desviar para si mais de 300 milhões de reais. O custo médio da campanha para o governo do Rio de 2014 foi estimado, em julho daquele ano, em 186 milhões de reais para 7 candidatos, isto é, 26,5 milhões por candidato. O que aconteceria se Cabral investisse metade dos subornos na campanha? Teria chance para alguém?

A Lava Jato acusou o Partido Progressista de receber mais em propinas da Petrobras do que verbas do fundo partidário ao longo de uma década. De novo, há políticos íntegros e devem ser valorizados. Contudo, precisamos reconhecer que há uma seleção natural adversa que favorece os políticos corruptos, que sobrevivem e se multiplicam.

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O procurador Deltan Dallagnol