A posse e a Sétima República


Dirceu Cardoso Gonçalves

                Os momentos anteriores à posse de Bolsonaro têm o mesmo “sabor” dos vividos em 1985 na pré-posse de Tancredo (que não chegou a se concretizar em virtude de sua internação e morte), em 1964 na de Castello Branco, 1961 na de Jânio Quadros e até em 1956 na de Juscelino Kubitschek. Foram cenas de corte na vida nacional, onde havia a expectativa de reformas profundas.

Kubitschek, o primeiro eleito depois do suicídio de Getúlio Vargas, sofreu tentativa de golpe logo após a votação que o escolheu e, empossado, promoveu grande surto de industrialização e a transferência da capital federal do Rio para Brasília, sob o lema desenvolvimentista “50 anos em 5”. Jânio elegeu-se com o apelo anticorrupção sustentado pela vassoura e renunciou 7 meses após a posse, levando ao poder o então vice-presidente João Goulart, de viés esquerdista, que seria derrubado em 1964, quando o país vivia profunda crise institucional. Castello, o primeiro do ciclo militar, foi eleito indiretamente pelo Congresso e empossado com o objetivo de dar um jeito naquilo (o país) que classificava como “massa falida”. Tancredo, que já havia funcionado como amortecedor na crise de 1961 e garantidor da posse de Goulart, atuando como primeiro-ministro, foi o depositário da confiança das lideranças nacionais e até do meio militar, para a volta do poder às mãos de um civil. Mas não teve saúde e quem governou foi vice José Sarney, que convocou a Constituinte balizadora do novo tempo.

Fernando Collor, o primeiro eleito diretamente na Nova República (também conhecida como Sexta República Brasileira) abriu a economia e sofreu impeachment. Seu vice, Itamar Franco, terminou o mandato e lançou o Plano Real, que combateu a inflação galopante de então. Depois veio Fernando Henrique Cardoso com seu programa de desestatização, Lula e Dilma com governos ditos populares, que surfaram na popularidade mas acabaram enredados em problemas que levaram Dilma ao impeachment e Lula ao cárcere. O vice Michel Temer restou com a missão de restaurar o país mas teve grandes dificuldades, sofrendo, principalmente, com o “fogo amigo” dos seus ex-aliados petistas e assemelhados.

O capitão Bolsonaro, até então um deputado federal de baixo clero com mandato há quase 30 anos, decolou como esperança de recolocar o país nos eixos. Levou a facada em Minas Gerais mas, mesmo assim, sua postura militarista levou a população a sufragá-lo em oposição aos governos de esquerda que acumularem problemas e nos levaram à profunda crise econômica e social. Eleito democraticamente terá, mais do que a oportunidade, o dever de restabelecer a dignidade dos governos e instituições, manter o principio de autoridade e reformar o Estado para que possa responder aos anseios da população. A tarefa é ampla, mas sua equipe tem alto nível. Que de suas mãos surja o novo Brasil que em todos os momentos críticos tem sido sonhado pelo povo. Não é exagero especular que pode está nascendo a Sétima República Brasileira, surgida das urnas, sem qualquer tipo de ruptura institucional…

Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo) – aspomilpm@terra.com.br